quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ATELIÊS DE LEITURA SONORA 



Anuncio com grande alegria a abertura da programação de 2014 do LIRA - Laboratório Interartes Ricardo Aleixo, com a série Ateliês de Leitura Sonora: a arte da escrita em voz alta, voltada para qualquer pessoa interessada em explorar o caminho aberto pelas energias que se cruzam na relação palavra escrita/aparelho fonador/gesto.

O formato que adotei para os Ateliês é o de aulas particulares, com a diferença de que, aqui, o roteiro de estudos será traçado juntamente com o/a participante, tendo como base tanto seus desejos e necessidades, no tocante a uma utilização mais consciente da voz falada, quanto suas eventuais limitações técnicas e/ou bloqueios emocionais.

Ao longo de 10 encontros, serão abordados tópicos como respiração, fonação, pronúncia, articulação, dicção, impostação, modulação, entonação, parâmetros do som, gesto e movimento, escuta da música verbal, valores expressivos de vogais e consoantes, leitura sonora como tradução intersemiótica, partituralização do texto (poesia, conto, crônica, romance etc.), níveis de oralidade, vocalidade, uso de microfones e outros equipamentos de amplificação, modificação e registro da voz, passagens entre canto, fala e ruído, voz falada e improvisação.

Como podem notar, há muito pão dentro do balaio, e será um prazer imenso comparti-lo com quem crê, à maneira de Severo Sarduy (1937-1993), um dos escritores contemporâneos que mais se empenharam na produção de uma escrita inteiramente conectada aos valores expressivos da oralidade - foi "periodista radiofônico", além de ter assinado inúmeros roteiros de radiopeças -, que "(a) era da voz está por vir".


Perguntas mais frequentes sobre os Ateliês de Leitura Sonora


P: O que são?
R: Os Ateliês são cursos de iniciação na arte da Leitura Sonora - também conhecida como "leitura em voz alta" - que se desenvolvem ao longo de 10 encontros, cada um com 1 hora de duração. Se houver interesse por parte do/a participante, ao fim do processo, será possível montar um módulo adicional, em nível avançado.

P: A quem se destinam?
R: A toda e qualquer pessoa que manifeste o desejo de explorar a multiplicidade de caminhos criativos que se abrem a partir da vivência do campo energético ativado pela relação livro/voz/corpo. Seja para se qualificar artisticamente, para adquirir maior desenvoltura no trato com o público, para lidar com algum tipo de inibição ou, ainda, para preencher o tempo livre. É necessário apenas que a pessoa seja alfabetizada, que já cultive o prazer de ler e que não apresente problemas vocais de ordem clínica, os quais, evidentemente, eu não estou apto a diagnoticar e tratar.

P: Qual é o valor do investimento? 
R: Como forma de tornar a proposta acessível a um maior número de pessoas, R$ 40,00 por encontro. Aquelas que optarem pelo pagamento em uma única parcela, no primeiro encontro, terão 10% de desconto (= R$ 360,00).

P: Existe um limite de idade para participar?
R: 18 anos, a idade mínima. Não há limite máximo.

P: É possível realizar os encontros em outro espaço que não o LIRA?
R: Sim. Sugiro, nesse caso, para que se torne uma uma opção economicamente viável, que as pessoas interessadas em vivenciar os Ateliês em sua própria casa ou no trabalho convidem amigos, familiares e/ou colegas para formar um pequeno grupo de até 4 integrantes, o que me permitirá oferecer descontos significativos. É preciso ter em mente, no entanto, que a realização dos Ateliês no LIRA coloca à disposição dos/as participantes o acesso a um acervo especializado em poesia, literatura e poéticas da voz e a equipamento profissional de gravação, amplificação e modificação da voz.

P: Os Ateliês têm ou terão também uma versão online?
R: Não, pelo fato de que se baseiam no contato direto entre leitor-guia e participantes. Um Ateliê só se materializa de fato quando cada elemento (o livro, a voz, que agencia a participação de todo o corpo, e o espaço) que constitui a Leitura Sonora é percebido como um campo de vibrações que agem, todo o tempo, umas sobre as outras, com o poder de alterar o comportamento humano e, consequentemente, a qualidade da performance.

P: Além do conteúdo, definido a partir dos propósitos de cada participante, que outros benefícios serão oferecidos a eles/as? 
R: Uma apostila, a ser montada ao longo do curso, com base nas referências teóricas utilizadas em cada encontro (envio por email); arquivo mp3 contendo a gravação de cada encontro; acesso, para consultas durante os encontros, aos livros, revistas, catálogos e material em áudio e vídeo do acervo do LIRA; acesso a equipamento de áudio e à internet (desde que tragam o próprio aparelho).

P: O que há de novo, no projeto dos Ateliês, em comparação com as atividades de formação oferecidas por você anteriormente?
R: A ênfase em pontos do meu trabalho como performador e leitor público que, até recentemente, eram pouco destacados, tanto por mim, em entrevistas e depoimentos, quanto por estudiosos da minha obra, nos debates acerca do meu processo criativo. Refiro-me, primeiro, à ideia de campos energéticos, que, embora fundante em meus trabalhos anteriores, eu deixava de mencionar, talvez por receio de que viessem a confundir o que proponho com algum tipo de "terapia alternativa". Nos Ateliês, falo explicitamente da hipótese de "afinação das energias instauradas no âmbito da relação livro/voz/corpo". Que é uma relação entre organismos vivos, códigos vivos, princípios ativos, como hoje já se sabe. O outro ponto diz respeito ao uso cada vez mais intenso de procedimentos aprendidos em práticas espirituais de tradições culturais extra-europeias, como as orientais, as africanas e as ameríndias: técnicas de respiração, formas de entoação e projeção da voz, usos não mecânicos do gesto e do movimento etc.

P: O subtítulo soa ambíguo. Foi proposital?
R: Sim. Eu quis deixar claro que a Leitura Sonora nada mais é que a transposição da escrita verbal para o espaço acústico, por meio da voz, e, ao mesmo tempo, a materialização da chamada "leitura em voz alta", que pode ser percebida como um tipo especial de escrita.

P: Você se define como um leitor-guia. Por que?
R: Porque eu realmente conduzo o processo criativo, em suas etapas iniciais, até que o/a participante se sinta com confiança bastante para assumir sozinho/a os desdobramentos de sua experimentação. Eu não só dou "comandos", como faço junto os exercícios.

P: Apenas a poesia é trabalhada nos Ateliês?
R: Não. Parto do princípio de que qualquer texto escrito pode ser transposto para o código sonoro. No percurso hipotético que vai do poema curto à novela, do miniconto ao romance, da crônica ao conto, da epopéia ao ensaio filosófico, tudo significa, para a voz, convite e desafio. Aprenderemos nos Ateliês, portanto, a ouvir, sob o aparente silêncio da escrita, as marcas de vocalidade, isto é, de presença dessa voz que, tendo organizado, como que musicalmente, a distribuição das letras, das palavras e das frases no espaço da página, deseja fazer-se, outra vez, parte inseparável do que Roland Barthes definiu como "prazer do texto".

P: A palavra cura?
R: Cura. Não no sentido que a medicina alopática convencionou, que é o da eliminação de uma determinada doença num corpo doente, mas no do cuidado permanente e mútuo que organiza a relação entre o falante e a palavra. É disso que trata o termo "palavra falante", que utilizo há cerca de 10 anos para designar esse jogo linguageiro que leva o signo verbal a nos falar, ao invés de ser apenas "falado" por nós. Num tempo, como o nosso, de visível e audível "expansão da peste da linguagem", para usar a forte e tão precisa expressão de Italo Calvino, é essa a possibilidade de cura com que nos acena a palavra poética, a palavra literária.


Sobre o leitor-guia


Ricardo Aleixo é poeta, artista visual, sound designer, cantor, compositor, performador, ensaísta e editor. Publicou, entre outros, os livros Mundo palavreado (2013) e Modelos vivos (2010 -um dos 10 finalistas dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti :2011). Como solista ou integrante da Cia SeráQuê e do Combo de Artes Afins Bananeira-ciência, já performou na Alemanha, na Argentina, em Portugal, na França e nos EUA. Integra antologias, coletâneas e edições especiais de revistas e jornais dedicados à difusão da poesia brasileira nos EUA, na Argentina, em Portugal, na França, de País de Gales, em Angola e no México. Tem participado de importantes exposições coletivas, como Poiesis < Poema entre pixel e programa > (RJ, 2007), Radiovisual - Em torno de 4'33 (Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2009), Poética Expositiva (RJ, 2011) e Gil70 (Rio de Janeiro e São Paulo, 2012, Brasília, 2013). É curador dos eventos ZIP/Zona de Invenção Poesia& e Dia Cage. Edita a revista Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro e a Coleção Elixir, de plaquetes tipográficas. Tem, no prelo, o livro Impossível como nunca ter tido um rosto. Concentra seus projetos de criação e pesquisa no Laboratório Interartes Ricardo Aleixo, na periferia de Belo Horizonte, cidade onde nasceu em 1960.


Para inscrições e informações:


Email: jaguadarte@hotmail.com.
Celular: ( 31)92424343.


Endereço do LIRA:


Rua Albuquerque Maranhão, 76, bairro Campo Alegre,
Belo Horizonte



Crédito da foto: Susana Souto.








sábado, 11 de janeiro de 2014

Chegança

Esta minha nova posse (do latim: esse, nosse, posse = ser, conhecer, poder) trará informações sobre o que faço no campo genericamente definido como poéticas da voz.

Considerem-se em casa todas as pessoas que se interessam pela cruza de artes da voz e do corpo & culturas do Atlântico Negro & autoconhecimento & espiritualidade & política &










[Foto da capa: Morena Madureira
foto do perfil: Susana Souto]